Os Canais (meridianos) no "Nei Jing" Parte I
Há pouco terminei de dar a aula-seminário de “Cânone Interno do Imperador Amarelo” (Huang Di Nei Jing).
Sempre saio com a sensação de que há tanto por discutir e que o Nei Jing é uma fonte inesgotável de informação.
No entanto, uma parte interessante para mim, é a diversidade de ideias que existe em torno dos “canais de acupunctura” (e todas as temáticas contidas na medicina chinesa). Isto é fácil de se compreender, devido a que, embora o Huang Di Nei Jing seja concreto e direto ao discutir os canais, o conteúdo é enorme e escrito por várias mãos, o que permite alguma confusão.
O que a seguir vou a descrever são algumas ideias extremamente básicas, obtidas do Nei Jing. Podem servir para iniciar discussões mais profundas, mas também podem ser consideradas uma pedra no topo do iceberg :)
Porque digo isto?
Porque sou consciente de que discutir os canais implica conhecimento dos canais regulares - 12 rios, c. tendinosos, divergências, frutos e raízes, caminhos, mares, 360 secções, regiões da pele, colaterais divergentes, colaterais flutuantes e netos, 5 ciclos e 6 qi, e uma longa repetição de etcetera…
Vamos a isso!
Algumas vias de circulação de substâncias no nosso corpo recebem o nome de “vasos” (Mai), existindo diferentes tipos de vasos que interligam diferentes tecidos.
Os canais (Jing) são um tipo de vaso. Por isto, é normal chamar-lhes “vasos dos canais” (Jing Mai). Embora podemos encontrar uma relação particular com os tendões (e músculos do corpo) no que chamamos "Canais tendinosos" ou "Canais dos tendões" (Jing Jin).
Os vasos são estruturas descritas como “túneis”, no Su Wen (Preguntas de Seda), mas mais frequentemente referidos desta forma no Ling Shu (Centro do Espírito).
“Os Caminhos dos 5 armazéns, saem pelos túneis dos canais, sendo usados para o movimento do sangue e do qì”
(Su Wen Capítulo 68 “Discussão da regulação dos canais”)
Um aspecto interessante e controverso na atualidade é: qual é o conteúdo dos vasos dos canais?. Hoje baralham-se muitas hipóteses, entre o sistema circulatório, nervoso e outros tecidos incluídos.
Na antiguidade, aparentemente isto não despertava dúvidas, o conteúdo era simplesmente qì e sangue.
“Os vasos dos canais, são pelo qual se movimentam o sangue e o qì, nutrindo yin e yang”
(Ling Shu capítulo 47 “A raiz dos armazéns”)
O qì contido dentro dos vasos, possui diferentes nomes, no entanto o Zong Qi (Zong e não Zhong) ao penetrar nos vasos recebe o nome de qi nutritivo.
“O Zong qi acumula-se no centro do tórax, emerge na garganta, penetrando nos vasos”
(Ling Shu capítulo 71 “O hóspede perverso”)
Um conteúdo importante do vaso, também é o fogo ministerial, que dentro do sangue recebe o nome de Hun, aquecendo e movimentando o sangue.
“O fígado armazena o sangue e o sangue contém o Hún”
(Ling Shu capítulo 8 “A raiz do espírito”)
Ver a Parte II
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